Carta aberta à minha (ex)amiga Bianka B

Sabia que você desapareceu?
Pode me perguntar, sem medo, "você me procurou?"
- Bia, sua bobinha! Você sempre esteve comigo. Ainda que eu desejasse me afastar de ti... Tudo o que me destes permaneceu e frutificou. Sou fruto de tuas sementes.
Ora, quem me dera, ser teu filho? Ou irmão?
Afinal, entendi, amigos geram amigos: quem se doa se multiplica.
Será que é por isso que Jesus deu tantos frutos se doando até a última gota de sangue?
(Mesmo aqueles que não acreditam na sua mensagem, podem ter virado, ao menos, amigos...)

É possível experimentar todos os universos simplesmente se doando: um dia sua semente alcança o outro lado do verso.
Acorda tu que dormes!!
(Você me alcançou)

Sabes melhor do que eu que só digo isto tudo porque sou tolo... Desejo demonstrar que aprendi algo.
(Que tal um café enquanto me conta o que aprendeu?)

Vez ou outra em mim ressoa feliz aquela voz suave e gentil chamando-me pelo apelido carinhoso que doravante jamais seria repetido com tamanha apropriação e sensibilidade: não necessita reacontecer, somente sublimar a memória.
(Obrigado. Foi perfeito)

Recordo-me daqueles dias que ficávamos até tarde no quintal filosofando sobre a vida - era sempre o mesmo quadro, o bairro querido por nós e o céu que queríamos pra nós.
(Lembra-te de como nós... Deixe pra lá. Basta que - por nós - eu lembre)

Eis que hoje às duas horas da madrugada resolvo eu comer algum doce qualquer e de repente sobreveio-me uma recordação tão doce quanto a sobremesa que doravante faria memória: era uma tarde ensolarada, a casa toda branca, modestamente refletindo a simplicidade e o despojo interior da mocidade; as flores no quintal recordando a beleza e o desejo de crescer, incessante, pulsante, de dentro para fora (éramos nós que por meio da flor nascíamos da semente e nos transfigurávamos em novas formas e cores, pétalas frágeis porém com jovial viço primaveril - se recorda das risadas tão cheias de pétalas? Para onde foram as nossas tardes ensolaradas?); na cozinha a partilha acontecia com ares de novidade: simplesmente colocou no microondas banana e depois delas terem derretido jogou canela (açúcar a gosto). Sobremesa vegan pronta. Eu ri da praticidade, me impressionei pelo novo, agradeci pelo gesto e o aprendizado: ficou em mim. Virou pétala.
(Faço hoje as palavras e o momento com gosto de amizade em memória do que já me ensinou e do que vive em mim. Permaneça. Não vá.)

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